terça-feira, 7 de outubro de 2008

Fundação Ibere Camargo - Porto Alegre, RS - Álvaro Siza

O edifício-sede da Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, é um marco para a arquitetura brasileira. Ainda em projeto, ganhou em 2002 o Leão de Ouro, prêmio máximo da Bienal de Arquitetura de Veneza, e foi pauta de inúmeras publicações especializadas antes mesmo de ficar pronto. Lançando mão de inovações técnicas, como o uso do concreto branco, ele soma a impecável execução ao uso nobre: abriga uma coleção de obras-primas do artista plástico Iberê Camargo. Se isso não bastasse, é a obra-prima de um dos mais aclamados arquitetos de nosso tempo: O português Álvaro Siza.

Vista para a Fundação Iberê Camargo

Numa primeira reunião do conselho da fundação Iberê Camargo, a construção de uma sede própria não estava na pauta, mas foi tema deste encontro. O assunto surgiu quando a secretária-geral, a arquiteta Cristina Soliani, propôs o nome de Oscar Niemeyer para desenhar a futura sede. A oposição mais ferrenha à sugestão partiu do empresário Justo Werlang, vice-presidente da instituição. Para ele, a contratação do carioca estava fora de questão pelo fato de Niemeyer não se preocupar com o uso específico dos espaços que cria. “Não podíamos correr esse risco. Em primeiro plano está a coleção”, afirma Werlang.

Um ano depois de constituída a fundação, o governo do estado doou-lhe um terreno às margens do rio Guaíba, ao sul do centro da cidade. Tratava-se de uma escarpa de pouco mais de 8 mil metros quadrados, repleta de vegetação e com apenas um quarto de área plana, junto à cota da avenida Padre Cacique. O lugar era uma antiga pedreira e, em parte, um aterro sobre o Guaíba. Com o passar do tempo, amadureceu entre os conselheiros a idéia de contratar um arquiteto estrangeiro que tivesse se notabilizado com projetos de museus. Sem alarde, a escolha do profissional durou quase um ano, entre junho de 1998 e março de 1999. Neste processo, foi fundamental o trabalho de Canal, que, a pedido da instituição, realizou ampla pesquisa, materializada num dossiê apresentado à diretoria. Ali o engenheiro listou dez nomes (que os envolvidos não revelam nem sob tortura, o que não impede um palpite com certa margem de segurança: Álvaro Siza, Rafael Moneo, Richard Meier, Arata Isozaki, Frank Gehry, Christian de Portzamparc, I. M. Pei, Hans Hollein, Renzo Piano e Tadao Ando).

Depois de algumas reuniões e avaliações, o foco recaiu em três figurões do star system arquitetônico: o português Álvaro Siza, o norte-americano Richard Meier e o espanhol Rafael Moneo.

A segunda missão foi visitar os três escritórios, no Porto, em Nova York e em Madri. Nesses encontros foram sondados os profissionais a respeito do interesse em participar do projeto. Para o início dos trabalhos, o engenheiro preparou mais um dossiê detalhado, com ricas informações sobre o sítio e o programa da fundação. Dentre os três finalistas, o português foi o que mais se empenhou. “Primeiro eu vi o buraco. Depois percebi que o buraco era um bocado estimulante”, Siza lembrou posteriormente. A solução que ele apresentou - que, com poucas diferenças, está agora ancorada às margens do Guaíba - foi criada em dezembro de 1998. Com os desenhos em mãos, o conselho se entusiasmou. E, assim, Siza estava escolhido.





Texto resumido a partir de reportagem
de Fernando Serapião
Publicada originalmente em PROJETODESIGN

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